24 abril 2013

Conversas Esotéricas

24 abril 2013
Do porquê do Estudo e Conhecimento Esotérico, bem como da reconciliação entre crer e saber...

Ao ler um livro, da Biblioteca Municipal da minha cidade natal, sobre Iniciados do Ocidente, dei por mim a ler também uma sistematização do porquê do estudo esotérico e da sua importância para nós enquanto seres espirituais. Fica aqui um pequeno trecho do prefácio:

O iniciado é, etimologicamente, um principiante. Era aquele que, na Antiguidade, recebera a iniciação, isto é, no sentido próprio, adquirira o direito de participar nos “Mistérios” a que se reduziam os ritos. É neste sentido que, nos alvores do cristianismo, a Igreja qualificava o baptismo de iniciação.
A accepção contemporânea é mais lata. O iniciado tornou-se aquele que sabe, que encontrou a Via e que já não é, pois, um impetrante.
«O objectivo da iniciação é o de conduzir o individuo ao Conhecimento através de uma iluminação interior, projecção e apreensão do centro do Eu humano da luz transcendente», escreve a respeito da iniciação maçónica Paul Naudon, que acrescenta:
«O método iniciático é uma via essencialmente intuitiva.»
Quanto a Jean Chevalier e a Alain Gheerbrant, estes definem assim a iniciação no seu Dicionário dos Símbolos: «Sentido de téleutai: provocar a morte. Mas a morte é considerada como uma saída, o transpor de uma porta que dá acesso a outro lugar. À saída segue-se uma entrada. Iniciar é introduzir. O iniciado transpõe a cortina de fogo que separa o profano do sagrado: passa de um mundo para outro e sofre por isso uma transformação, muda de nível, torna-se diferente.»
Estas definições devem ser tomadas em consideração. Contudo, têm o defeito de subentender um ritual de iniciação, um tribunal de mestres que julga o profano e lhe concede à sua vontade a investidura.
Ora nós sabemos, a partir de René Guénon e alguns outros, que a iniciação pode muito bem ser o fruto de uma caminhada solitária, de uma longa ascese ou de um clarão resplandescente. Somos levados à equação: iniciado=iluminado.
Nada melhor do que comparar um iniciado assim conhecido a um homem perdido num labirinto, que descobre às apalpadelas o fio de Ariane e que o segue sem saber se ele lhe permitirá desembocar no ar livre.
Em 1889 o crítico e historiador Edouard Schuré publicou, com o título Os Grandes Iniciados, um «esboço da história secreta das religiões». Nesta obra, constantemente reeditada, o autor, grande conhecedor do esoterismo e da teosofia, procede a uma análise em profundidade daqueles a quem ele chama os «iniciados» e que são os fundadores das grandes religiões ou das principais correntes do pensamento hermético: Rama (o ciclo ariano), Krishna (a iniciação brâmane), Hermes (os mistérios do Egipto), Moisés (a missão de Israel), Orfeu (os mistérios de Dionisos), Pitágoras (os mistérios de Delfos), Platão (os mistérios de Eleusis) e Jesus (a missão de Cristo).
Ao entregar-se à sua análise, Edouard Schuré põe em evidência semelhanças perturbantes. Tendo em conta a época, as civilizações em que viviam, os enfeites mitológicos, todos seguiam globalmente o mesmo percurso com uma “estrutura mental”, como se diz em psicologia, quase idêntica.
Todos escolheram como método a revelação, por muito parcial que ela fosse. É, oferecida aos discípulos, a aposta do «crer» contra o «saber».
Schuré, inicialmente musicólogo e defensor de Wagner, tornou-se ao longo da sua vida um teósofo dado ao estudo das filosofias e dos sistemas religiosos mais diversos donde ele pretendia extrair uma sabedoria única e eterna, o que o torna um pioneiro do estudo das religiões comparadas. «Rama mostra apenas os acessos ao templo», escreve ele, «Krishna e Hermes dão-nos a sua chave. Moisés, Orfeu e Pitágoras mostram o seu interior. Jesus Cristo representa o seu santuário.»
Há pois, incontestavelmente, para ele, uma subida em direcção à luz, uma epifania do ciclo ariano para a missão de Cristo. Mas a Igreja traiu ao limitar-se a uma mensagem exotérica.
Schuré estava obcecado por uma exigência de unidade. É característico, aliás, que ele tenha colocado, como epígrafe, esta frase de Vlaude Bernard: «Estou convencido que um dia virá em que o fisiologista, o poeta e o filósofo falarão a mesma língua e entender-se-ão todos.»
Esta reconciliação do crer e do saber, do mundo físico e da vida espiritual da alma, passa por uma teosofia em que a chave dos mistérios é dada pelo esoterismo.
«Pode formular-se como se segue os princípios essenciais da doutrina esotérica», escreve Edouard Schuré: «O espírito é a única realidade. A matéria não é senão a sua expressão inferior, variável, efémera, com o seu dinamismo no espaço e no tempo. A criação é eterna e contínua como a vida. O microcosmos-universo é, por constituição, ternário (espírito, alma e corpo), a imagem e o espelho do macrocosmos-universo (mundo divino, humano e natural), que é ele mesmo o órgão de Deus inefável, do Espírito absoluto, o qual é pela natureza Pai, Mãe e Filho (essência, substância e vida). Eis porque o homem, imagem de Deus, pode tornar-se o seu Verbo vivo. A gnose ou a mística racional de todos os tempos é a arte de encontrar Deus em si mesmo, desenvolvendo as profundezas ocultas, as faculdades latentes da consciência. A alma humana, a individualidade, é imortal por essência. O seu desenvolvimento tem lugar num plano alternativamente descendente e ascendente, por existências alternativamente espirituais e corporais. A reencarnação é a lei da sua evolução. Alcançada a perfeição, ela escapa-se-lhe e volta ao espírito puro, a Deus, na plenitude da sua consciência. Da mesma forma que a alma se eleva acima da lei do combate para a vida quando ela toma consciência da sua humanidade, assim também ela eleva-se acima da lei da reencarnação quando toma consciência da sua divindade.» (...)

Fonte: Extraído do prefácio do livro Os Iniciados do Ocidente de Jean-Louis Brau, colecção Enigmas do Ocidente, Publicações Europa-América, 1989.

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