Do porquê do Estudo
e Conhecimento Esotérico, bem como da reconciliação
entre crer e saber...
Ao ler um livro, da
Biblioteca Municipal da minha cidade natal, sobre Iniciados do
Ocidente, dei por mim a ler também uma sistematização
do porquê do estudo esotérico e da sua importância
para nós enquanto seres espirituais. Fica aqui um pequeno
trecho do prefácio:
O iniciado é,
etimologicamente, um principiante. Era aquele que, na Antiguidade,
recebera a iniciação, isto é, no sentido
próprio, adquirira o direito de participar nos “Mistérios”
a que se reduziam os ritos. É neste sentido que, nos alvores
do cristianismo, a Igreja qualificava o baptismo de iniciação.
A accepção
contemporânea é mais lata. O iniciado tornou-se aquele
que sabe, que encontrou a Via e que já não é,
pois, um impetrante.
«O objectivo da
iniciação é o de conduzir o individuo ao
Conhecimento através de uma iluminação
interior, projecção
e apreensão do centro do Eu humano da luz transcendente»,
escreve a respeito da iniciação maçónica
Paul Naudon, que acrescenta:
«O
método iniciático é uma via essencialmente
intuitiva.»
Quanto
a Jean Chevalier e a Alain Gheerbrant, estes definem assim a
iniciação no seu Dicionário dos Símbolos:
«Sentido de téleutai: provocar a morte. Mas a
morte é considerada como uma saída, o transpor de uma
porta que dá acesso a outro lugar. À saída
segue-se uma entrada. Iniciar é introduzir. O iniciado
transpõe a cortina de fogo que separa o profano do sagrado:
passa de um mundo para outro e sofre por isso uma transformação,
muda de nível, torna-se diferente.»
Estas
definições devem ser tomadas em consideração.
Contudo, têm o defeito de subentender um ritual de iniciação,
um tribunal de mestres que julga o profano e lhe concede à sua
vontade a investidura.
Ora
nós sabemos, a partir de René Guénon e alguns
outros, que a iniciação pode muito bem ser o fruto de
uma caminhada solitária, de uma longa ascese ou de um clarão
resplandescente. Somos levados à equação:
iniciado=iluminado.
Nada
melhor do que comparar um iniciado assim conhecido a um homem perdido
num labirinto, que descobre às apalpadelas o fio de Ariane e
que o segue sem saber se ele lhe permitirá desembocar no ar
livre.
Em
1889 o crítico e historiador Edouard Schuré publicou,
com o título Os Grandes Iniciados, um «esboço
da história secreta das religiões». Nesta obra,
constantemente reeditada, o autor, grande conhecedor do esoterismo e
da teosofia, procede a uma análise em profundidade daqueles a
quem ele chama os «iniciados» e que são os
fundadores das grandes religiões ou das principais correntes
do pensamento hermético: Rama (o ciclo ariano), Krishna (a
iniciação brâmane), Hermes (os mistérios
do Egipto), Moisés (a missão de Israel), Orfeu (os
mistérios de Dionisos), Pitágoras (os mistérios
de Delfos), Platão (os mistérios de Eleusis) e Jesus (a
missão de Cristo).
Ao
entregar-se à sua análise, Edouard Schuré põe
em evidência semelhanças perturbantes. Tendo em conta a
época, as civilizações em que viviam, os
enfeites mitológicos, todos seguiam globalmente o mesmo
percurso com uma “estrutura mental”, como se diz em psicologia,
quase idêntica.
Todos
escolheram como método a revelação, por muito
parcial que ela fosse. É, oferecida aos discípulos, a
aposta do «crer» contra o «saber».
Schuré,
inicialmente musicólogo e defensor de Wagner, tornou-se ao
longo da sua vida um teósofo dado ao estudo das filosofias e
dos sistemas religiosos mais diversos donde ele pretendia extrair uma
sabedoria única e eterna, o que o torna um pioneiro do estudo
das religiões comparadas. «Rama mostra apenas os acessos
ao templo», escreve ele, «Krishna e Hermes dão-nos
a sua chave. Moisés, Orfeu e Pitágoras mostram o seu
interior. Jesus Cristo representa o seu santuário.»
Há
pois, incontestavelmente, para ele, uma subida em direcção
à luz, uma epifania do ciclo ariano para a missão de
Cristo. Mas a Igreja traiu ao limitar-se a uma mensagem exotérica.
Schuré
estava obcecado por uma exigência de unidade. É
característico, aliás, que ele tenha colocado, como
epígrafe, esta frase de Vlaude Bernard: «Estou
convencido que um dia virá em que o fisiologista, o poeta e o
filósofo falarão a mesma língua e entender-se-ão
todos.»
Esta
reconciliação do crer e do saber, do mundo físico
e da vida espiritual da alma, passa por uma teosofia em que a chave
dos mistérios é dada pelo esoterismo.
«Pode
formular-se como se segue os princípios essenciais da doutrina
esotérica», escreve Edouard Schuré: «O
espírito é a única realidade. A matéria
não é senão a sua expressão inferior,
variável, efémera, com o seu dinamismo no espaço
e no tempo. A criação é eterna e contínua
como a vida. O microcosmos-universo é, por constituição,
ternário (espírito, alma e corpo), a imagem e o espelho
do macrocosmos-universo (mundo divino, humano e natural), que é
ele mesmo o órgão de Deus inefável, do Espírito
absoluto, o qual é pela natureza Pai, Mãe e Filho
(essência, substância e vida). Eis porque o homem, imagem
de Deus, pode tornar-se o seu Verbo vivo. A gnose ou a mística
racional de todos os tempos é a arte de encontrar Deus em si
mesmo, desenvolvendo as profundezas ocultas, as faculdades latentes
da consciência. A alma humana, a individualidade, é
imortal por essência. O seu desenvolvimento tem lugar num plano
alternativamente descendente e ascendente, por existências
alternativamente espirituais e corporais. A reencarnação
é a lei da sua evolução. Alcançada a
perfeição, ela escapa-se-lhe e volta ao espírito
puro, a Deus, na plenitude da sua consciência. Da mesma forma
que a alma se eleva acima da lei do combate para a vida quando ela
toma consciência da sua humanidade, assim também ela
eleva-se acima da lei da reencarnação quando toma
consciência da sua divindade.» (...)
Fonte: Extraído
do prefácio do livro Os Iniciados do Ocidente de
Jean-Louis Brau, colecção Enigmas do Ocidente,
Publicações Europa-América, 1989.
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